Nasce a 23 de janeiro de 1572, na cidade de Dijon, França. Com apenas um ano e meio de idade, perde a mãe, e seu pai se dedica inteiramente à educação dos seus três filhos, inculcando-lhes antes de tudo o amor de Deus e a doutrina da fé católica.
Joana Francisca é a admiração de todos os que com ela convivem, por sua inteligência viva, seu reto e sólido juízo, seu caráter firme e varonil, sua prudência e discrição, que unidos ao seu coração inclinado ao bem e à virtude foram a base sobre a qual se elevou o edifício de sua perfeição. Cooperou fielmente com a graça, e assim pôde cumprir os desígnios que Deus lhe apresentaria ao longo da sua vida.
Contraiu matrimônio com o jovem barão de Chantal. Desde sua chegada ao castelo do esposo, demonstra sua habilidade na administração das propriedades, fazendo-as mais produtivas que antes. Deus abençoou seu lar com seis filhos. Os dois primeiros morrem ao nascer. Enfim, após três ou quatro anos de casamento ela dá à luz o seu primogênito Celso Benigno, nascendo a seguir Maria Amada, Francisca e Carlota.
Assume em todo o momento o seu papel de mulher “perfeita”, dedicada à educação de seus filhos e às obras de caridade. Depois de algumas semanas do nascimento de Carlota, o barão sofre um acidente de caça e morre. Viúva aos 28 anos, apesar da sua profunda tristeza, abraça a vontade de Deus e perdoa de coração ao responsável involuntário pela morte de seu esposo. Experimenta o quão efêmera é a felicidade nesta vida.
Desabrocha nela um vivo desejo de ser toda de Deus. (Anos atrás fizera, juntamente com seu esposo, uma promessa: aquele que sobrevivesse ao outro, se consagraria a Deus). Reparte suas jóias e vestidos de gala entre os pobres e a Igreja. A partir de então, se constitui “mãe de todos os pobres”. Acompanhada pelos filhos, visita os enfermos em suas próprias casas, leva-lhes alimentos, remédios, e ela mesma limpa e cura suas chagas e as beija, vendo a Nosso Senhor em cada um deles. Fazia estas obras de caridade com tanto esmero e carinho que todos diziam: “Que bom é estar doente, para receber a visita da santa baronesa!”
Joana Francisca sente uma sede ardente do infinito e pede insistentemente ao Céu um guia espiritual que lhe mostre a vontade de Deus. Ouve em seu íntimo a voz que lhe diz: “Eu te darei esse guia”.
Passa a quaresma de 1604 em casa de seu pai em Dijon. O Bispo Francisco de Sales vem a esta cidade para fazer a pregação da Quaresma. Ambos se reconhecem sem nunca se haverem visto e desde o primeiro momento se compreendem. Ela se coloca sob sua direção espiritual. Começa uma rica correspondência entre os dois: são alguns dos mais belos escritos que existem e refletem a profunda amizade vivida entre os santos. No dia 4 de junho de 1607, Francisco de Sales lhe revela o desígnio que Deus lhe havia inspirado de fundar uma nova Congregação, e ela acolhe, muito feliz e com perfeita obediência, o projeto.
Em 1609, sua filha mais velha, Maria Amada, se casa, e no ano seguinte falece sua filha caçula. Francisca continuará sua educação por algum tempo sob a direção da mãe e Celso Benigno, entregue aos cuidados do avô materno.
Chega o momento da partida para iniciar a vida religiosa, em Annecy, Sabóia. Assim nasce a Ordem da Visitação de Santa Maria: no dia 6 de junho de 1610, Domingo da Santíssima Trindade, Joana Francisca de Chantal, acompanhada por Joana Carlota de Brechard, Jaquelina Favre e Ana Jaquelina Costa, entram na pequena Casa da Galeria, onde recebem a bênção do Bispo Francisco de Sales juntamente com as Constituições religiosas que ele mesmo redigiu. Nesta Casa residirão alguns anos até se transferirem definitivamente em 1613 para o primeiro Mosteiro da Visitação nesta mesma cidade.
Joana Francisca sofre sucessivamente a perda dos parentes que lhe eram mais queridos. A estas dolorosas partidas se unem enfermidades, críticas e perseguições de
todo o tipo. Tudo recebe e abraça com espírito de fé, vendo em tudo a vontade de Deus. É admirável em seu ardente amor a Deus. Amor forte, generoso e provado, que a faz dizer: “Saborear a suavidade de Deus, não é amor sólido; mas humilhar-se, sofrer e morrer a si mesmo, este é verdadeiro amor”.
Em 1632, profundamente tocada pelo amor divino, partilhou com as Irmãs sua experiência acerca de um martírio que chamou de Martírio de Amor, explicando-lhes textualmente: “… Deus, sustentando a vida de seus servidores e servidoras para fazê-los trabalhar para a sua glória, os torna mártires e confessores ao mesmo tempo (…). É que o Divino amor faz passar sua espada pelas partes mais secretas e íntimas de nossas almas, e nos separa de nós mesmas. Eu conheço uma alma a quem o amor separou das coisas que lhe eram mais caras, de tal modo, como se tiranos houvessem separado seu corpo de sua alma, esquartejando-o com suas espadas”. As Irmãs entenderam que Joana Francisca falava de si mesma.
Como mestra de oração, apontava uma atitude fundamental, comum a todas as orações: não é suficiente ser pequeno diante de Deus, é preciso ser nada; eis aí o fundamento sobre o qual Deus edifica. Esta atitude fundamental ela a expressa pela ligação necessária entre oração e mortificação: “A mortificação e a oração são as duas asas da pomba para voar em alguns santos retiros, a fim de encontrar seu repouso com Deus, longe da agitação do mundo; e como os pássaros não podem se dirigir ao alto com uma só asa, também não devemos nos persuadir que apenas com a mortificação, sem oração, uma alma possa alçar vôo para se elevar a Deus”.
Tendo vivido em profunda humildade, gozou de paz e serenidade constantes. Ao falecer em 13 de dezembro de 1641, às vésperas de seus 70 anos de idade, deixou fundados 87 Mosteiros. Em 1751 foi beatificada pelo Papa Bento XIV e em 16 de julho de 1767, canonizada por Clemente XIII.
Seu coração permanece incorrupto no Mosteiro da Visitação, na cidade de Nevers, França.